O impacto positivo de uma vida estruturada para os cães domésticos.
Olá pessoal! Hoje eu quero explorar com vocês um tema muito importante, que pode ser a raiz de muitos dos problemas que vocês vêem nos cães domésticos urbanos: a rotina doméstica e a falta de estrutura (organização) dentro dela. Eu sei que o tema parece abstrato, por isso eu vou explicar melhor.
Boa parte das famílias que procuram ajuda para lidar com problemas de comportamento de seus cães se enquadram num mesmo perfil genérico: falta de uma rotina estruturada dentro de casa. O que isso significa, na prática?
Esses são cães que normalmente tem mais liberdade dentro de casa, às vezes numa área da casa, às vezes na casa inteira. Dentro da rotina desses cães, pouco é exigido deles no sentido de resposta comportamental. A família normalmente não tem o hábito de estabelecer regras como:
Na sala, enquanto a família assiste televisão, o cão deve ficar deitado no local determinado (o exercício do place).
Na hora do jantar o cachorro pode apenas observar o ritual da família e ficar deitado no local determinado do ambiente, sem latir, sem pular e sem encostar nas pessoas enquanto elas fazem sua refeição.
Na hora de sair para caminhar, o cão deve sentar e permitir que os humanos coloquem a coleira e guia, sem agitação. O cão deve respeitar as passagens de portas e saber caminhar ao lado do humano na rua.
Durante a caminhada o cão deve saber ignorar as distrações à seu redor e acompanhar o humano, no seu passo, no seu ritmo.
Quando a família está fora de casa o cão deve estar no seu espaço seguro (caixa de transporte) aguardando os humanos voltarem.
A lista de exemplos poderia ser maior mas a idéia é mostrar como uma rotina bem estruturada (um planejamento) pode prevenir boa parte dos problemas de comportamento que vemos nos cães nos dias de hoje.
Vejam que, a falta de uma rotina doméstica bem estruturada abre múltiplas portas de oportunidades para o cão errar, iniciando assim o ciclo de hábitos ruins e perigosos que podem custar a vida do seu cão. Vamos ao exemplos reais;
Cães que fazem xixi e coco no lugar errado. Por qual motivo você daria liberdade de circulação pela casa para um cão que ainda não criou a referência correta sobre o banheiro? A liberdade de escolha aqui faz apenas com que o cão continue errando. Qual a solução? Estabelecer a tríade da supervisão: o uso da caixa de transporte quando o cão não puder ser supervisionado (quando você dorme, sai de casa ou está ocupado com alguma outra atividade), o trabalho de duração no exercício do place, junto com você, em lugares diferentes da casa e a direção na guia, que nada mais é do que mover o cão dentro de casa com o uso da guia (que pode ser uma guia unificada). Esse processo de usar a guia dentro de casa vai fazer com que o cão siga sua orientação com mais clareza. Você deve levar o cão diversas vezes ao longo do dia no local adequado para usar o banheiro, e nesses intervalos ele terá 3 opções:
Ele está descansando na caixa de transporte.
Ele está no place com você, apenas como coadjuvante, observando alguma atividade que você esteja fazendo.
Ele está caminhado com você na rua, ou fazendo algum treino dinâmico com você.
Vejam como tudo fica mais claro para o cão assim. Não existem dúvidas, não existe espaço para erros, e não existe confusão. O que existe aqui é uma participação muito mais ativa dos humanos do processo de educação desse cão. Essa é a parte mais importante! É aqui que somos postos à prova pois temos que, de fato, tomar a frente dessas situações para evitar erros. Essa é a tão falada liderança, que nada mais é do que saber advogar pelo seu cão, especialmente na fase de aprendizado e modificação comportamental.
Num segundo exemplo, vamos ver casos de cães da mesma casa que brigam. Esse é um exemplo super comum (infelizmente) que chega nesse mesmo ponto crítico (as brigas) por falta de uma rotina estruturada. O que acontece nesses casos?
A família normalmente tem um cachorro, que parece não ser um problema. Em algum momento eles decidem trazer um segundo cão para dentro dessa família e simplesmente fazem isso colocando o segundo cão para dentro de casa, junto com o cão original. Muitas vezes tudo parece estar bem, as interações são vistas como brincadeiras, os cães ficam sempre juntos, livres para interagir da forma que acham que devem, inclusive sem supervisão dos humanos.
Levem em consideração que, nesses casos, o cão original já não tinha uma rotina bem estruturada, logo o segundo cão entrou num cenário já fora de controle. Em algum momento, normalmente nos primeiros 18 meses de vida juntos, o embate acontece. Seja por um recurso (objeto, brinquedo, pessoas, comida, água e etc.), seja por espaço pessoal, seja por agitação ou qualquer reação explosiva ou invasiva de uma das partes. Uma vez que o conflito se estabelece, a família entra em pânico e procura ajuda (no melhor cenário). Aonde está o erro? Aonde tudo começou? Não foi do nada, não foi ciúmes, não foi charme nem birra. Foi apenas a falta de estrutura na rotina que permitiu que todo o resto pudesse acontecer.
Nessa caso, se o primeiro cão da casa já estivesse condicionado com regras como:
À noite, e quando não houver supervisão, você dorme na caixa de transporte.
Durante qualquer atividade da família no contexto doméstico você é apenas o coadjuvante e o place é o seu lugar.
Durante atividades dinâmicas (caminhadas e treinos) você faz o que eu peço, sem contestar.
Em qualquer cenário social você não toma iniciativas, mas sim pede permissão.
O segundo cachorro teria entrado na mesma rotina, debaixo das mesmas regras. Não haveria pressa em colocar esses cães juntos para interagirem livremente, e ambos poderiam se beneficiar de uma vida de mais inclusão, sem riscos.
O grande problema da rotina bem estruturada, aos olhos de muitas famílias, é o tempo e energia que esse formato exige das pessoas que vivem com esses cães. Está aí o grande conflito. A realidade é, como diz o famoso ditado: "não existe almoço grátis". O sonho que muitas pessoas tem, de viver com cães sem ter que desempenhar um papel significativo na educação deles, nada mais é do que uma ilusão. Não vai acontecer. Ou fazemos parte ativa desse processo ou aceitamos viver com cães mais próximos do selvagem, ou seja, cães que jamais vão ver os humanos com respeito. Lembrem que comportamentos como usar o banheiro nos locais errados, latir e atacar visitas, destruir móveis e objetos da casa, guarda de recursos (comportamento possessivo), agitação constante, pular nas pessoas e etc. só acontecem porque nós permitimos e porque o cão não tem nenhum roteiro previsível à cumprir ao longo do dia.
Tudo isso se traduz como comportamento selvagem mesmo, ou seja, falta da real domesticação. Cães assim tendem a viver uma vida muito mais restrita já que a família tende a não inclui-lo nas atividade diárias, porque ele não sabe como se comportar nessas situações. Isso significa que o cão assim, ou vai ser sempre um problema, e vai aprisionar a família dentro de casa com ele, ou ele vai aos poucos sendo excluído de tudo, vivendo uma vida de quase que total isolamento (cães que vivem em varandas, áreas de serviço, garagens e banheiros).
No final a escolha é sua. Que tipo de vida você quer ter com seu cão? Lembre que sua escolha vai determinar, não apenas que papel esse cachorro vai ter na sua vida, mas quem você vai escolher ser para esse cão que você diz que ama de paixão.